O tarifaço de 50% aplicado pelos Estados Unidos a parte dos produtos brasileiros colocou pressão sobre pequenas e médias empresas exportadoras que têm no mercado norte-americano um de seus principais destinos. Para mitigar os impactos e abrir caminhos para novos mercados, o Governo Federal lançou o Plano Brasil Soberano, regulamentado na quarta-feira (13) por Medida Provisória assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O programa prevê ações emergenciais para apoiar empresas prejudicadas pelo tarifaço e também atua na diversificação das exportações, reduzindo a dependência do comércio com os EUA. No campo da diplomacia comercial e do multilateralismo, o Planalto diz que o Brasil tem avançado em acordos internacionais: fechou negociações com a União Europeia e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), está em tratativas com Emirados Árabes Unidos e Canadá e mantém diálogo com Índia e Vietnã.
Patrícia Tendolini Oliveira, economista e coordenadora do curso de Negócios Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), afirma que, embora a China seja o maior parceiro comercial do Brasil, não existe substituição direta do mercado norte-americano pelo chinês, já que os perfis de compra são diferentes. “A China foca em commodities como a soja, enquanto muitos produtos afetados pelo tarifaço são de outra natureza”, afirma.
Ainda assim, segundo a docente, o país asiático tem demonstrado interesse em itens não tradicionais, como o café. Para ingressar em mercados como esse, a especialista reforça a importância de entender a cultura e as regras locais, além de verificar a existência de acordos comerciais que facilitem o acesso. Ela destaca que o Mercosul, por exemplo, garante isenção de tarifas entre seus membros, e que existem acordos bilaterais menos conhecidos que podem ser estratégicos.
Para Francisco Américo Cassano, consultor de comércio exterior e sócio-diretor da FG35 Consultoria e Treinamento, o empreendedor deve lembrar que o mercado externo exige uma lógica completamente diferente do mercado interno. “Aqui, muitas vezes, o preço baixo é suficiente para garantir vendas, independentemente da qualidade. No exterior, preço e qualidade andam juntos, e a apresentação conta muito”, afirma.
Cassano alerta que a embalagem é um fator crítico, seja a voltada ao consumidor final, seja a utilizada para transporte. Produtos enviados por via marítima, por exemplo, precisam resistir à umidade e ao manuseio, enquanto o transporte aéreo, embora mais caro, exige menos sofisticação.
Ele também aponta os alimentos como um segmento com grande potencial de entrada em outros países, citando mel e açaí como exemplos. "Já nos industrializados, a dificuldade é maior, pois a indústria brasileira ainda não alcançou tecnologias tão avançadas quanto outros países, o que limita a competitividade."
7 dicas para abrir mercados internacionais
Tanto para quem já exporta quanto para quem deseja começar a abrir mercados internacionais, os especialistas recomendam:
Analisar o mercado-alvo: Pesquisar demanda, perfil do consumidor, concorrentes e barreiras de entrada. Avaliar se o produto é competitivo em preço, qualidade e diferenciais.
Adequar o produto e a embalagem: Adaptar rótulos, instruções e certificações conforme as exigências do país de destino. Em alguns casos, será necessário mudar o tamanho da embalagem, incluir idiomas adicionais ou atender a padrões técnicos específicos.
Definir logística e transporte: Avaliar custo e tempo de entrega por via marítima ou aérea. Produtos frágeis ou perecíveis exigem cuidados extras.
Verificar requisitos legais e sanitários: Checar licenças, registros e certificações obrigatórias.
Participar de feiras e missões comerciais: Essas ações facilitam o contato direto com compradores, permitem testar o produto e obter feedback sobre ajustes necessários.
Aproveitar acordos comerciais: Priorizar países com isenção ou redução tarifária, como os do Mercosul e blocos com os quais o Brasil mantém tratados.
Usar apoio especializado: Contar com trading companies, despachantes aduaneiros e consultores para reduzir riscos e acelerar processos.
A professora da PUCPR ressalta que abrir um novo mercado é um processo de médio a longo prazo, que pode levar anos. “Envolve negociações, contratos e, muitas vezes, anos de trabalho. Por isso, o plano do governo tem caráter emergencial, funcionando como um paliativo no curto prazo, enquanto se busca soluções de médio e longo prazo", diz.
"O Brasil já demonstrou, em crises anteriores como a de 2008 e durante a pandemia, que possui um mercado interno relevante. Esse é um ponto a ser considerado, junto à expectativa de que o governo continue negociando e seguindo um caminho diplomático."
Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios